quinta-feira, 30 de julho de 2015

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

VERDE QUE TE QUERO VER

              Mais um conto meu.
                                                                                                             "(...)
nem saberei o que me espera,
nem que rosário de amargura,
nem se é inverno ou primavera."
                                                       
Vasco Graça Moura, Valsa das Sombras 

                     Eu o amava desde sempre. Mas foi somente ao voltar de férias à nossa cidade, que Tiago percebeu que eu existia. No último dia, telefonou convidando-me para jantar.
                     Fazia muito frio e eu saí às pressas para comprar um casaco novo. Teria de ser especial, muito especial. Um casaco que eu usaria apenas quando estivesse com ele.
                    - Lã inglesa, sinta o toque... – falou a vendedora, acariciando o casaco mais elegante que eu jamais vira. - Verde-profundo é o nome da cor. Bonita, não? A mesma dos seus olhos. E combina às maravilhas com seu cabelo ruivo! – acrescentou, entusiasmada.
                     Adorei meu casaco sete oitavos, verde-ilusão. Com certeza, Tiago me acharia linda.
                     Minutos antes do encontro, no entanto, ele ligou, desculpando-se. Por não-sei-qual-problema-de-última-hora, cancelava nosso jantar. Meu casaco verde-decepção foi para o armário.

                     Tiago só voltou a me chamar no inverno seguinte, quando as férias chegavam ao fim. Dessa vez eu é que não pude aceitar o convite: com pneumonia, nem pensar em sair da cama. Chorei de tristeza e frustração.
                    Soube que voltou várias vezes à nossa cidade; mas nunca mais me procurou. E  meu casaco verde-desalento continuou guardado.
                    
                   Muitos invernos se passaram. Invernos demais. Amei, desamei, ganhei, perdi, vivi, sobrevivi, sem jamais esquecer Tiago.

                   - Rita, quero muito falar contigo! 
                   Ao reconhecer a voz ao telefone, meu coração quase parou. Era Tiago, dizendo que tivera notícias minhas por um amigo.
                   - Preciso te ver o quanto antes! – o tom  era urgente.
                   Combinamos nos encontrar dentro de duas horas, num café do centro.
                   Levei bastante tempo escolhendo a roupa e me pintei com capricho. De repente, enquanto ajeitava os cabelos, minha mão parou no ar. E se ele...? E se eu...? E se... Tantos ses, tantas perguntas, caindo como gotas de chuva gelada apagaram minha alegria.
                   Era inverno outra vez. Fui buscar, na prateleira mais alta do guarda-roupa, meu jamais usado casaco verde, de cujo tom não tinha mais certeza. Porém, quando abri a caixa e retirei as folhas de papel de seda que o envolviam, descobri que estava todo roído pelas traças.
                   Meu casaco verde-obsessão foi para o lixo.
                   E Tiago me esperou em vão.




sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

FELIZ ANO 2 012!

Os espetáculos de fogos de artifício fazem parte integrante dos festejos de Ano Novo.
Para vocês,  imagens lindas de algumas  comemorações.


Ano Novo em Porto Alegre - Brasil
 espacoturismo.com






Ano Novo em Punta del Este - Uruguai
trichic.com.br


Além do essencial, Paz, Saúde, Amor e Boa Sorte, desejo de que tenham, durante 2012, muitos momentos de prazer. Pequenas coisas que deixam a vida mais bonita e que nos fazem felizes. 
Assim como na poesia de Carlos Drummond de Andrade...


Desejo a você
Carlos Drummond de Andrade



Desejo a você...

Fruto do mato

Cheiro de jardim

Namoro no portão

Domingo sem chuva

Segunda sem mau humor

Sábado com seu amor

Filme do Carlitos

Chope com amigos

Crônica de Rubem Braga

Viver sem inimigos

Filme antigo na TV

Ter uma pessoa especial

E que ela goste de você

Música de Tom com letra de Chico

Frango caipira em pensão do interior

Ouvir uma palavra amável

Ter uma surpresa agradável

Ver a Banda passar

Noite de lua cheia

Rever uma velha amizade

Ter fé em Deus

Não ter que ouvir a palavra não

Nem nunca, nem jamais e adeus.

Rir como criança

Ouvir canto de passarinho

Sarar de resfriado

Escrever um poema de Amor

Que nunca será rasgado

Formar um par ideal

Tomar banho de cachoeira

Pegar um bronzeado legal

Aprender uma nova canção

Esperar alguém na estação

Queijo com goiabada

Pôr-do-Sol na roça

Uma festa

Um violão

Uma seresta

Recordar um amor antigo

Ter um ombro sempre amigo

Bater palmas

De alegria

Uma tarde amena

Calçar um velho chinelo

Sentar numa velha poltrona

Tocar violão para alguém

Ouvir a chuva no telhado

Vinho branco

Bolero de Ravel...

E muito carinho meu.

Ano Novo no Rio de Janeiro - Brasil
fotosimagens.net

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CHAMPANHE II - A MELHOR HORA PARA BEBER

picgifs.com
                As opiniões variam sobre o melhor momento para beber champanhe/espumante. Há quem diga que deve ser bebido como aperitivo, outros que deve acompanhar a sobremesa.

                Tal dúvida não existe para minha irmã e muitas de minhas amigas, para as quais todos os momentos são próprios para beber champanhe. E que é a bebida perfeita para acompanhar qualquer prato, da entrada à sobremesa, como também para ser tomada sozinha.

en.wikipedia.org

  Em uma de suas crônicas no jornal Zero Hora, o colunista J. A. Pinheiro Machado refere o comentário de Lily Bollinger, uma das grandes damas da região da Champagne, que Anonymus Gourmet, seu alter ego, considera definitivo:

flickr.com
         
Bebo champagne quando estou alegre e quando estou triste. Algumas vezes bebo quando estou sozinha. Se estou acompanhada, considero-o obrigatório. Bebo uns golinhos quando estou com fome. Fora isso não toco em champanhe – a não ser, é claro, que esteja com sede.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

CHAMPANHE OU ESPUMANTE?


ultradownloads.uol.com.br


Champanhe: a palavra - não a bebida – desapareceu das bocas, substituída pelo termo espumante. Tenho notado que muitas pessoas evitam pronunciá-la, como se falar champanhe fosse proibido ou mostra de falta de conhecimento.

Nada disso. O que está proibido, por questões de leis de propriedade industrial, é o uso da palavra champagne nos rótulos dos espumantes que não são produzidos na região da Champagne, na França. Por esse motivo, cada país passou a adotar um nome específico para os espumantes que fabrica. No Brasil usamos Espumante, na Itália é Prosecco ou Asti, na Espanha, Cava, na Alemanha é denominado Seckt, e assim por diante. Outro dia vi no rótulo de um espumoso chileno a palavra Sparkling Wine.

ambrosianet.blogspot.com


Na verdade, a palavra champanhe, substantivo masculino, consta de nossos dicionários. Refere-se ao vinho espumante, branco ou rosado, produzido na região da Champanhe (neste caso usa-se o feminino) na França. Também é atribuída a qualquer vinho semelhante a esse. O termo não foi banido da língua portuguesa e pode também ser usado na forma aportuguesada: champanha.


jornale.com.br

Espumante é o nome genérico dos vinhos que possuem gás carbônico, ou seja, aqueles que fazem espuma quando abertos. São colocados em garrafas espessas, por causa da efervescência. Em decorrência da pressão, recebem rolhas grossas que são protegidas por armações de ferro ou arame.

gvpoeta.blogspot.com
Champanhe ou espumante, esta bebida deliciosa, é presença quase que obrigatória em qualquer celebração. E não importa de que país provenha, podemos oferecê-lo como champanhe, nome mais simpático e há muito incorporado a nossa linguagem.

Portanto, um brinde  - com champanhe! - a meu marido que hoje festeja seu aniversário.


mundocasamento.blogspot.com


sábado, 28 de maio de 2011

CONVIVENDO COM CRIANÇAS - APRENDENDO A FAZER CHURRASCO

Em postagens anteriores, escrevi sobre o quanto a cozinha se presta para a convivência com crianças. As tarefas são prazerosas e a recompensa é sempre uma delícia. 

Aqui, outro exemplo: o menino pediu ao avô que o ensinasse a fazer churrasco.
Foi ele também quem escreveu, com letra caprichada, a lista dos ingredientes:
Salsichão
Coração de galinha
Maminha
Picanha
Lombinho de porco ou
Costelinha de porco
Pão com alho
Alface, tomate e cebola para a salada
Aipim (para a Vovó cozinhar)
Carvão
Os assadores preparam-se para iniciar os trabalhos
A seguir, a ida ao supermercado: verdadeiro passeio.
Compras feitas, é hora de preparar a churrasqueira com gravetos e pedacinhos de madeira. Acender o fogo é permitido se o Vovô estiver junto.
Depois do fogo aceso, é o momento de colocar o carvão e esperar que se transforme em brasas.

O preparo da churrasqueira.
Mas é melhor descer do banquinho...
A carne é colocada para assar. Enquanto vai virando os espetos, o pequeno churrasqueiro escuta as histórias do tempo em que Vovô era criança. São repetidas inúmeras vezes e a cada vez enriquecidas com um detalhe diferente.
- Conta mais, Vovô! Conta de novo aquela da pescaria!
Vovô sorri. Conduzido pela memória, ele revê sua infância. Nessa hora, avô e neto têm a mesma idade.

O pequeno assador compenetrado.
Não dá para desviar a atenção.
O ambiente também é propício para o Vovô aconselhar e falar o que acha que deve. Sermões jamais, que a cozinha não é lugar para isso.

- Vovó! Chega de fotos!
Mas Vovô também sabe ouvir. Permanece atento enquanto o neto, espontâneo e descontraído, relata os pequenos acontecimentos do seu dia a dia. Solidário, Vovô mostra-se pronto a ajudar o menino em seus problemas. Entende suas preocupações - que podem parecer sem importância para os adultos - mas que são tão sérias para a criança.
E sobretudo divertem-se e dão boas risadas, pois o menino adora contar piadas e delas possui extenso repertório.

O troféu de "Melhor Assador" muda de mãos!
São momentos preciosos esses, nos quais se fortalecem laços de afeto e confiança que, por certo, permanecerão por toda a vida.
_______________________
BONUS: Uma  piada do netinho:

A mosca chamou a filha e falou:
- Hoje você vai voar sozinha pela primeira vez, mas quero que  volte em uma hora.
Passada uma hora a mosquinha voltou.
- Então, - perguntou a mãe - como é que foi? Foi legal? Foi bom? Foi chato? Foi ruim?
- Mamãe, foi um sucesso! - respondeu a mosquinha. - Por onde eu passava todos me aplaudiam!

domingo, 15 de maio de 2011

O PRAZER DE LER II - O TEMPO ENTRE COSTURAS

Ao fim de vinte anos de ensino universitário, a espanhola María Dueñas, doutora em Filologia Inglesa e professora titular da Universidade de Múrcia,  descobriu o talento que a catapultou para as listas de livros  mais vendidos em todo o mundo. O Tempo entre costuras já vendeu mais de meio milhão de cópias, vinte e sete edições, conta com doze traduções diferentes e uma série televisiva a caminho.
A história de Sira, uma modista e agente secreta que viaja entre Espanha, Marrocos e Portugal, foi publicada inicialmente em modesta edição de três mil exemplares,  mas o boca-a-boca tornou-o um autêntico fenômeno de vendas.

María Dueñas
ideal.es
É um alentado livro de quase quinhentas páginas, que nos captura desde as primeiras linhas. Não só porque sua leitura é puro prazer, quanto pelo interesse histórico que nos desperta a pesquisa extremamente bem feita dos fatos e personagens reais. A história tem início às vésperas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e prossegue até a Segunda Guerra Mundial.

É a própria Maria Dueñas quem fala - entre outras coisas - sobre as razões de tamanho sucesso. A entrevista, da qual transcrevo alguns trechos,  foi  concedida em Portugal e publicada no site http://www.segredodoslivros.com/entrevistas/maria-duenas.html.

"Talvez seja o fato de ser um livro que aborda mais do que um único género, O tempo entre costuras é, na verdade, uma mescla de diferentes gêneros literários e tem vários ingredientes distintos entre si - História, personagens históricas reais, aventura, espionagem e muita ação. Por outro lado, tem também esta recriação de cenários muito evocadores e desconhecidos, como é o caso do Norte de África, e a história pessoal desta jovem protagonista, muito inocente e mal preparada, que vai crescer e superar obstáculos, vai sofrer amores e desamores, traição, paixão, amizade… Creio que, no final, a junção de todos estes ingredientes é aquilo que faz com que as pessoas gostem e recomendem a história.

bitacorademislecturas.blogspot.com
E continua:

"A primeira coisa que eu tive em mente, muito antes de ter uma história em si, era que queria recuperar os cenários do norte de África, mais concretamente de Marrocos. Os meus avós viveram lá durante muito tempo e a minha mãe também nasceu lá, de maneira que todas estas memórias, todas estas recordações estiveram sempre muito vivas durante toda a minha infância. Eles estavam sempre a contar histórias daquela altura, sempre cheios de nostalgia… No entanto, cá fora, poucos ou nenhuns eram aqueles que sabiam do que se tratava! Por isso, fiz questão de recuperar essa época, de a retratar mais uma vez - pesquisei, li imensos documentos e livros sobre a mesma, comecei a pensar numa história possível de adaptar ao assunto em questão e tudo o resto se desenrolou a partir daí.

obraarte.com
 "Li muita documentação histórica, muitos livros, muitas obras daquela época… Sobre Lisboa, por exemplo, lembro-me que li imensos livros escritos por ingleses que trabalhavam para os serviços secretos britânicos e que contavam as suas memórias. Há, por exemplo, o livro sobre o embaixador britânico em Portugal,  a altura, que foi escrito por um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Enfim, as minhas fontes são, essencialmente, testemunhos, relatos pessoais.


abc.es


" (...) E quando se fala em II Guerra Mundial, as pessoas só se lembram do que fez a Alemanha, a Inglaterra, os EUA, a França e a Itália. Ninguém pensa naquilo que aconteceu durante esse período em Espanha ou em Portugal. Por isso, achei que seria de todo o interesse que a protagonista viesse a Lisboa. Até porque também era um contraste que se evidenciava entre as capitais portuguesa e espanhola, uma vez que, depois da guerra, em Espanha as coisas estavam muito cinzentas e tristes e em Portugal imperava o orgulho."  

Foto: Jussara L.

No Brasil,O tempo entre costuras foi publicado pela Editora Planeta do Brasil Ltda.

sábado, 23 de abril de 2011

PÁSCOA

Páscoa significa Renascimento.
Que nesta Páscoa, com o coração aberto, possamos renovar nossos afetos e recomeçar a vida na medida de nossos anseios.

Anos atrás, por ocasião da Páscoa, encontrei em um jornal de Buenos Aires,   uma poesia  do escritor argentino Mario Vecchioli (1903-1978), que me tocou muito.  Dela não constava o título e também não sei  estava transcrita de forma completa.  Ainda que tenha pesquisado a respeito, não consegui encontrá-la. Publiquei-a na Páscoa passada, tal como a tinha lido: em espanhol . A pedido de uma amiga, aqui está ela novamente, agora em português.

Saí em busca de Deus.
E foi surpresa
encontrá-lo dentro de mim mesmo,
acomodado em minhas idéias,
sereno e pensativo.


"Perdoa-me - lhe disse -
se chego tarde para estar Contigo.
Porém lá fora - sabes? -
o mundo que fizeste é um prodígio
e me seduziu com tanta maravilha.


Deus me olhou sorrindo,
desde  meus próprios pensamentos
e falou com voz tranquila:


"De que te desculpas, filho?
Eu nunca disse: esta é minha casa
e aqui virás a ver-me aos domingos.


Porque eu estou em todo tempo
e em todo lugar.
E sou a Luz, a Vida, a Alegria
que  tens visto e ouvido.


Se caminhaste neste dia
ouvindo
e vendo
e compreendendo,
eu te digo que hoje,
em verdade,
teu coração esteve falando com o meu."
  

domingo, 17 de abril de 2011

RIMAS DE SARA LUNA - II AQUELA NOITE

Aquela noite.
Foto: Jussara L.

- Não sou poeta, não escrevo poesias. E também sou incapaz de usar linguagem poética  em meus textos -  diz Sara Luna, entre um gole e outro de café. - Só faço rimas. 
- Por que não me limito à prosa?,  boa pergunta!- continua ela - Porque através dos  versos  consigo expressar-me melhor e dizer mais com  menos palavras.

- Publicar minhas rimas no teu blog? - surpreende-se Sara. - Aceito.  Só quero deixar bem claro que não tenho qualquer compromisso com a coerência. O que digo pode valer num dia e no dia seguinte não representar mais nada.
Sara Luna suspira:
- Na verdade, meus versos só relatam o momento. "Aquela noite" desapareceu no passado e a pessoa que os escreveu não existe mais.


Ah! Aquela noite
Foto: Jussara L.

    Aquela noite
    

Não temos nada em comum.

Eu sou água, tu és vento

Tu razão, eu sentimento.



Não, não temos nada em comum.

Tu inércia, eu movimento

Eu ação, tu pensamento



Não temos mesmo nada em comum.

Tu remanso, eu voragem

Tu prudência, eu coragem



Em comum não temos nada.

Tu a luz, eu a voltagem

Tu o silêncio, eu a mensagem



Ele e eu tão diferentes

Nada temos em comum.

Separados, incompletos.

Quando juntos, nos somamos

Quando juntos, somos um.

domingo, 13 de março de 2011

PUNTA DEL ESTE: O SEGREDO DAS ÁGUAS

Vista do mar desde a Rambla de Circunvalación
Foto: Jussara L

Uma das coisas mais agradáveis para se fazer em Punta del Este é caminhar pela Rambla, o calçadão que contorna a Península, a parte mais antiga da cidade.

Porto N. Sra. da Candelária - O Portinho
Foto: Jussara L.
Nesse recorrido, apreciamos as águas agitadas do Oceano a explodirem nas rochas e as águas mansas do Rio da Prata com seus reflexos dourados. Na zona pedregosa, junto aos quioscos que vendem frutos do mar, é possível assistir às convenções das gaivotas e de outros pássaros marinhos.

Um pouco além, passa-se pelo Portinho Nuestra Señora de la Candelária, onde aportam iates luxuosos bem como os barcos simples dos pescadores, e onde os lobos-marinhos chegam em busca de comida. 

Na Punta de Las Salinas, encontra-se a Plazoleta Gran Bretaña, na qual está fixada a âncora do Ajax, um dos navios de guerra ingleses que participaram da histórica Batalha do Rio da Prata, em 1 939, a primeira batalha naval da Segunda Guerra. Foi nessa batalha que naufragou o navio alemão Graf Spee.

O espaço de estacionamento, ao lado, fica repleto de pessoas que ali vão assistir  a la puesta del sol, e ver o sol mergulhando nas águas. É nesse local, na ponta extrema da Península, que ficou estabelecido o limite entre o Rio da Prata e o Oceano Atlântico. É ali que suas águas se encontram.
                                                   


O sol mergulha no Rio de La Plata, ao lado da Ilha Gorriti.
Foto: Jussara L.


               El secreto de las águas
                                                                           Para meus amigos uruguaios.
                                                                                                    Para Cláudia, minha querida professora de espanhol.
                                                                                                                                 

El viento, aullando, recorre mi calle día y noche, noche y día. A veces apenas susurra.


Va y viene llevando mensajes entre el Río de la Plata y el Mar.


¿Qué dice el viento?


¿Qué palabras leva el viento?


No lo sé. No comprendo sus aullidos, tampoco sus murmullos.


Pero todo lo adivino cuando, al  contemplar la puesta del sol desde la Punta de las Salinas, veo el abrazo de las aguas.


 Por-do-sol no ponto onde as águas se abraçam. Visão desde a Punta de Las Salinas.
Foto: as viajantes.com


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

JORGE DREXLER - PRÊMIO GOYA


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<>                                 imdb.com
Drexler e   a esposa Leonor
zimbio.com
    

                
Jorge Drexler                  
imdb.com                   

 
Gosto muito de sonetos. Sempre gostei desse gênero de poesia que muitos consideram ultrapassado. 


Atrevo-me a confessar este meu gosto inusitado porque Jorge Drexler acaba de receber o prêmio Goya de Melhor Canção Original - prêmio espanho equivalente ao Oscar -  por um soneto seu, que musicou para o filme sobre os amores de Lope de Vega. Ele já havia ganho o Oscar em 2006 por outra melodia, Al otro lado del río, composta para Diarios de Motocicleta,


Jorge Drexler, músico e poeta uruguaio, é bem conhecido no Brasil onde tem se apresentado. Nos últimos meses, agregou uma experiência nova ao seu trabalho para  cinema, ao atuar em uma película do diretor Daniel Burman


A história da canção premiada com o Goya é muito interessante.


Drexler conta que conheceu o cineasta brasileiro Andrucha Waddington há mais de um ano em Marrocos, durante a rodagem do filme sobre a vida e os amores de Lope de Veja, poeta e dramaturgo espanhol. Marrocos foi utilizado como cenário para representar as cidades de Madrid e Lisboa no Siglo de Oro. Drexler acompanhava sua mulher, a atriz Leonor Watling, para cuidar do filho. Leonor interpreta, no filme, Isabel de Urbina, esposa de Lope de Vega.


Andrucha, com uma filmografia de onze películas, entre elas Eu tu e ele e A casa de areia, encantou Drexler com a sua forma impulsiva de trabalhar, usando a intuição e apelando para o acaso.


Conta Drexler que, durante um jantar, conversaram sobre suas experiências pessoais na convivência com espanhóis. No dia seguinte, levantou-se e escreveu o soneto como um exercício de estilo já que, na ocasião, lia muito Lope de Vega. Diz que não teve outra intenção senão a de fazer dele um presente a Waddington E que o soneto, que trata sobre a espontaneidade, permaneceu como um gesto entre amigos e nada mais.


Meses depois, quando o filme estava no final do processo de montagem, Wadington entrou em contato com Drexler e convidou-o a que usasse o soneto como base para uma canção original.


O tema, gravado com o Coro de la Comunidad de Madrid, não foi feito para uma cena da película, mas integrado aos créditos finais. Segundo palavras do próprio Drexler, este é um momento entre a fantasia e a realidade que ele, como espectador, aprecia muito. As luzes começam a acender-se, as pessoas levantam-se e passam a perceber que parte da emoção da película pode ser transferida para o mundo real.


Aqui, o soneto, que deu origem à canção:


Que el soneto nos tome por sorpresa

Entrar en este verso, como el viento,
Que mueve sin propósito la arena.
Como quien baila, que se mueve apenas
Por ele mero placer del movimiento.

Sin pretensiones, sin predicamento,
Como un eco que sin querer resuena,
Dejar que cada sílaba en la oncena,
Encuentre su lugar y su momento.

Y que el soneto nos tome por sorpresa,
Como si fuera un hecho consumado,
Como los toman los rompecabezas,

Que sin saberlo nacen ensamblados.
Así el amor, igual que un verso empieza,
Sin entender de dónde ha llegado.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

DIA DE SÃO VALENTIM


     O Dia dos Namorados comemora-se, no Brasil, em 12 de junho, véspera  de Santo Antônio. Porém, em um grande número de países, o dia dedicado aos enamorados é o dia 14 de fevereiro, dia de São Valentim. Nessa data festeja-se, não apenas o amor entre casais, mas também a amizade entre familiares e amigos.

     Por este motivo, hoje quero felicitar  as mulheres, tanto as amigas quanto as da família, que enriquecem e adoçam minha vida. A elas  chamo  minhas rosas, pois a elas se igualam em  ternura e delicadeza. E se, como as rosas, minhas amigas  também  tem seus espinhos, eles são usados  -  não para ferir - mas para proteger-se.  Embora sua força e coragem,  algumas vezes elas são tão frágeis quanto as rosas. Mas só algumas vezes.

     A todas, presenteio  com  lindos versos de Cecília Meireles. E também  com as fotos  que eu fiz de de uma rosa colombiana. Este, sim, um regalo bem modesto.


Primeiro motivo da rosa




 Vejo-te em seda e nácar,

e tão de orvalho trêmula, que penso ver, efêmera,

toda a Beleza em lágrimas

por ser bela e ser frágil.



Meus olhos te ofereço:

espelho para face

que terás, no meu verso,

quando, depois que passes,

jamais ninguém te esqueça.



Então, de seda e nácar,

toda de orvalho trêmula, serás eterna. E efêmero

o rosto meu, nas lágrimas

do teu orvalho... E frágil.




Quarto motivo da rosa


Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verás, só de cinzas franzida,

mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos

ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PUNTA DEL ESTE: CALLE 19, A RUA DOS VENTOS

       A Calle 19 em Punta del Este, na Península, não deve ter mais do que trezentos metros e pode ser percorrida a pé em dois ou três minutos. Possui somente duas quadras e é limitada de um lado  pelo  Rio da Prata e do outro pelo Oceano Atlântico.
    
       Os ventos são frios e constantes e é raro o dia em que sopra apenas uma  brisa fresca. Falo ventos, porque existe mais de um.  Noite dessas, uma discussão entre dois deles me acordou alta madrugada. Um dos ventos  falava, ou melhor uivava, o outro respondia à altura, e havia momentos em que gritavam ao mesmo tempo. A voz de um deles era nitidamente feminina e a do outro - mais alta e mais grave - era sem dúvida masculina. Não entendi o que diziam, mas tenho certeza de que era uma briga de amantes.

       Na próxima postagem publicarei um pequeno texto que escrevi, inspirado nos ventos da Calle 19.


Este é  um dos limites da Calle 19: o Rio de La Plata, onde está situado el Puerto...

... e aqui está o outro, o Oceano Atlântico.






    

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

LIVRO I - TREM NOTURNO PARA LISBOA


Foto: Jussara L.
      
       Algumas vezes me vem a vontade de poder viver outra vida além da minha: uma vida paralela. Existe por acaso  alguém que não tenha sentido, ao menos alguma vez, tal desejo? Não que esteja insatisfeita ou  queira trocar minha vida por outra. Na verdade, quero continuar sendo quem sou (bem, nem sempre...), permanecer com o que tenho e com o que consegui em todos os aspectos da minha vida.                
    
       Confesso, porém,  que surgem ocasiões em que desejaria sair um pouco da rotina, que amo,  experimentar  coisas novas,  transformar-me em alguém que nunca conheci e nem sei se existe.  Mas depois...voltar.
     
       Os livros - e também meus escritos - oportunizam-me essa fuga. Imersa nas histórias, penetro na pele dos personagens e parto para vivências imprevisíveis. 
      
     Em Trem noturno para Lisboa, o personagem Raimund Gregorius, professor de Línguas Clássicas, numa súbita percepção da passagem inexorável do tempo,  certo dia abandona a sala de aula e sua vida rotineira e organizada. Seduzido por um livro do português Amadeu de Prado, toma o trem noturno  para Lisboa com o objetivo de  saber mais sobre o escritor e melhor compreende-lo. Voltará?
    
       Ainda não cheguei à metade do livro, mas  já sei que vou retornar ao início para prolongar o prazer que tem me causado a leitura. Sem falar na delícia de revisitar lugares conhecidos e familiares de Lisboa, como o Bairro Alto, a Alfama, a praça do Rossio e as margens do Tejo. E ainda outros de que nunca ouvi falar, como o antigo liceu religioso onde Amadeu estudou,  na parte leste da cidade, ou Cacilhas, do outro lado do Tejo.

      As reflexões de Amadeu de Prado sobre os múltiplas experiências da vida lembram-me, de certa forma, Luiz Antônio de Assis Brasil em seu Ensaios Íntimos e Imperfeitos.

       Trem noturno para Lisboa foi escrito por Pascal Mercier, pseudônimo de Peter Bieri, nascido em 1944 em Berna, que  atualmente vive em Berlim, onde é professor de Filosofia. Traduzido para mais de quinze idiomas, vendeu  cerca de dois milhões de exemplares desde sua publicação em 2004 na Alemanha. 
     
        O título do livro acabou por transformar-se em  expressão idiomática, usada para referir alguém que pretende mudar de vida.