domingo, 9 de agosto de 2009

CONSCIÊNCIA X ALIENAÇÃO




“Todas as línguas derivadas do latim formam a palavra compaixão com o prefixo com e a raiz passio que, originariamente, quer dizer sofrimento. (...)significa que não se pode olhar o sofrimento do próximo com o coração frio; em outras palavras: sentimos simpatia por quem sofre.” Milan Kundera



“Tenha por amigos pessoas que pensem como você, conviva com os animais e deixe de ler jornais” foi o conselho dado por Einstein a um amigo que lhe escreveu, dizendo-se desanimado e sem vontade de viver: os horrores deste mundo o deprimiam demais.

Tenho procurado preservar-me da angústia que me assalta toda vez que tomo conhecimento do que ocorre no planeta: a recorrência sem fim das guerras, da violência, da corrupção, da intolerância, e de tudo que me induz, cada vez mais, a descrer na raça humana. Para isso tento encontrar, com insistência e perseverança, o que a vida pode oferecer de bom e positivo. Decidi seguir, na medida do possível, a orientação do sábio.

Com relação ao primeiro conselho – o dos amigos -, escolho, para conviver, aquelas pessoas com quem realmente tenho afinidades. Aquelas que pensam como eu e têm os mesmos valores, objetivos e entusiasmo pela vida.
A existência de seres humanos dignos desta condição, o contato com a natureza e com os animais, com seu afeto e lealdade, é instrumento seguro que me conforta e que me impele a continuar confiando em uma improvável mas possível redenção.

Quanto a abandonar os jornais, torna-se mais difícil. Em verdade, deles não posso prescindir. Não dispenso a leitura de críticas e opiniões sobre música, livros, teatro e cinema, bem como de artigos sobre ciência, cultura e educação. Leio também sobre moda, culinária e decoração, pois fazem parte do meu cotidiano. E não abro mão de saber o que se passa pelo mundo. No entanto, no que diz respeito a notícias desalentadoras, fico apenas nas manchetes. Julgo desnecessário ir a fundo, empreender uma jornada ao âmago das tragédias. Não preciso sorver até a última gota o sangue de um crime, seguir os passos do pedófilo ou ouvir a explosão de bombas para imaginar o inferno. Nem provar as lágrimas dos explorados e indefesos para compreender a amargura. Dispensável examinar todos os meandros da corrupção, para saber da previsível impunidade dos envolvidos e para sentir a mais profunda indignação. Poupo-me dos detalhes para não sucumbir à desesperança.

Optei por levar uma vida de decência, harmonia e compaixão. E é com paixão que busco em cada dia seu encantamento e a beleza das coisas boas e simples. Sou consciente da minha impotência em influir nos grandes acontecimentos; por essa razão, procuro fazer a minha parte da melhor forma possível, com responsabilidade e dedicação, oferecendo ao próximo o melhor de mim.
Pode ser pouco; sei que não é suficiente. Mas é o que está ao meu alcance.