sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O EXECUTIVO

     Para meu amigo Tita
    
     Não sabia como chegara ou o que fora fazer ali. O certo é que se sentia deslocado naquela paisagem, sob o sol inclemente, com sua roupa de trabalho - terno e gravata. Abrigou-se à sombra das palmeiras que limitavam todo um lado da faixa de areia. Depois dela, o mar. Procurou com o olhar: ninguém à vista.
     Uma súbita lufada de vento, com sabor a sal, penetrou-lhe nas narinas e secou o suor que lhe escorria pelo rosto. Levou as mãos à garganta e afrouxou o nó da gravata. A gravata: coleira, jugo, canga, símbolo de sua submissão a um trabalho exaustivo, realizado sob pressão. Tantas e ao mesmo tempo tão curtas eram as horas, que jamais permitiam que chegasse ao fim do dia sem alguma tarefa pendente. Num gesto irritado jogou-a no chão, arrancando às pressas as roupas e os sapatos enquanto corria para o mar.
   Invadido por uma sensação de liberdade nunca antes provada, mergulhou os pés queimados na frescura das águas. Permaneceu imóvel, olhos fixos no horizonte daquele mar sem fim, os pés afundando na areia áspera, encharcada pelo ir e vir das ondas.
     De repente, um ruflar de asas junto ao rosto e o peso leve de uma gaivota em seu ombro arrancaram-no da contemplação.

     - Desculpe-me acordá-lo, senhor, mas estamos iniciando os procedimentos de pouso no aeroporto de Cape Town e o senhor precisa afivelar o cinto.