segunda-feira, 29 de março de 2010

CHAPEUZINHO VERMELHO EM VERSÃO MODERNA

- Oi, moça! Eu quero aquele aí de cima. Não, aquele não! O outro... o do lado, aquele com açúcar e canela... É! Esse aí mesmo.
Olhei para baixo e vi a menina apontando o dedo para mim. Para mim, não. Para o bolo, onde eu estava escondida. Reconheci a menina de cara: era ela, Chapeuzinho. Desta vez usando um boné vermelho, do qual saíam os cabelos castanho-dourados num rabo-de-cavalo.
- Por favor, moça, - voltou a pedir à balconista – faz um embrulho bem bonito, pra presente, que é para eu levar pra minha avó.

Já estávamos no ônibus quando, finalmente, consegui escapar por uma dobra do pacote.
- Credo! De onde saiu esta formiga? – indagou a menina, curiosa.
- Ora, do bolo! – respondi - Eu e minhas companheiras invadimos a confeitaria na noite passada. Nos descobriram e foi a maior chacina. Só me salvei porque me escondi no bolo.
Chapeuzinho Vermelho não se espantou ao me ouvir.. Deve ler muitas histórias e está acostumada com bichos e objetos que falam.
Mas eu estava confusa a respeito de um detalhe e perguntei:
- Mas não é a mãe quem faz os doces para você levar para a avozinha?
- Devia. Mas mamãe trabalha fora e, quando volta para casa, tem muito o que fazer. E chega sempre tão cansada, a coitada...
De repente, Chapeuzinho olhou para fora e disse, levantando-se:
- Tenho de descer aqui. Minha avó mora sozinha lá do outro lado do parque. Olha, - continuou – se você prometer que não vai me picar e nem voltar pro bolo, pode vir comigo.
- Tudo bem. Mas e o lobo?, perguntei, preocupada.
- Que lobo?
- Sua mãe não lhe avisou pra ter cuidado com o lobo?
- Deixa de ser boba, Formiga. Onde já se viu lobo no parque? Ela me avisou foi para não dar papo para desconhecidos. Disse que há pessoas que são mais perigosas que animais selvagens.
Atravessamos o parque sem maiores problemas; somente tivemos de desviar de um cachorrão com cara de delegado.

Um senhor simpático, de cabelos grisalhos, abriu a porta.
- Será que me enganei de apartamento? – perguntou Chapeuzinho, franzindo a testa. Levantou os olhos para conferir o número da porta, e continuou:
- É este mesmo! O quarenta e dois. Eu vim visitar minha avó, a Dona Eunice.
- Eunice! – chamou ele, voltando-se para dentro: – Visita para você!
Em seguida apareceu uma senhora, vestindo calças jeans e blusa vermelha. Não tinha cabelos brancos, não usava óculos e nem tinha cara de avó.
- Minha querida, – disse ela, beijando a menina, - que bom que você veio! Entra, entra, quero que você conheça o Pedro, meu amigo.
- Prazer, Pedro Lobo, às suas ordens, - disse ele. Sorriu e acariciou a cabeça de Chapeuzinho. - Sua avó fala muito em você.
Minha amiga estendeu a mão para o senhor Lobo, mas não disse nada. Decerto achou estranho o nome dele.
Entramos. Quando dona Eunice abriu o pacote e viu o bolo, falou entusiasmada:
- Que delícia! Quase não como mais doces porque tenho que manter a linha. Mas hoje vou deixar minha dieta de lado. Vocês me acompanham num chazinho com bolo? – convidou.
Para falar a verdade, ninguém tomou chá. A menina preferiu suco de uva e eles beberam uma cervejinha. Mas do bolo, todos nós comemos (Chapeuzinho deixava cair, disfarçadamente, algumas migalhas para mim).

Mais tarde, quando nos despedimos, dona Eunice recomendou:
- Adoro suas visitas, meu anjinho. Porém, você deve ligar sempre antes de vir, avisando. Como eu saio muito, qualquer dia desses você pode dar com o nariz na porta.
Mas eu bem que reparei na olhadinha que ela deu para o senhor Lobo enquanto falava.

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