quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

É NATAL

Este foi um dos meus primeiros textos - comecei a escrever muito tarde - na Oficina de Natal da querida Mestra e Amiga Valesca de Assis, em dezembro de 2006. O desafio era escolher algumas sílabas do nosso nome e, com elas, redigir um conto de Natal. Escolhi estas quatro: SA RA LU NA.

O ENFEITE DE NATAL


Aqui, bem no alto da árvore de Natal, mãos gentis me colocaram em lugar de destaque. No entanto, quase desapareço em meio a tantas bolas coloridas, estrelas recobertas de lantejoulas, corações de cristal, fitas, anjos e luzes, tudo a brilhar, reluzir, cintilar. Não fosse algum raio de luar que incide sobre mim quando brisa suave me embala, não chamaria a atenção de ninguém.
Sou apenas um círculo de papelão macio, recoberto de papel prateado, sobre o qual estão as iniciais S L em cordão vermelho de seda. Nasci das mãos amorosas de uma velha senhora, a quem chamavam Nona. Era Natal e brilhava no alto dos céus a mais bela lua cheia jamais vista. Lembro bem que entre os sons de risos, músicas e tintilar de cálices, percebia-se, vez que outra, o choro manso de um recém-nascido.
São meus dias de glória, estes do Natal. Poucos, mas que me alimentam durante os longos meses escuros em que fico guardado em uma caixa na prateleira mais alta do armário do sótão.
Muitas coisas tenho visto daqui de cima: a primeira foi o bebê a quem chamavam Sara Luna. A cada ano a criança aparecia maior até transformar-se na gentil menina com quem ainda hoje se parece a jovem que me olha lá de baixo com ternura. Certo Natal, radiante, ela chegou acompanhada do noivo a quem, no ano seguinte, chamou de marido. Mais tarde trouxe também o menino de grandes olhos azuis, depois os gêmeos e por último a Piccinina.

Os Natais sempre foram cheios de vida e alegria nesta casa. Alegria que só faltou em um deles: naquele em que a velha senhora de mãos amorosas não mais apareceu.

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